Aroeira

 

Cheia de qualidades e usos, vai do chá para gargarejos contra infecção de garganta até a cura de feridas de colo do útero. E na culinária, então, depois do sucesso na cozinha brasileira, o fruto conhecido como pimenta-rosa conquistou os chefs da Europa.
Muito conhecida dos brasileiros por suas potencialidades medicinais - e por isso também rica em denominações populares - a aroeira (Schinus terebinthifolia) vez ou outra se mete em histórias diferenciadas.
Na década de 1960, período dos grandes festivais de música popular brasileira (MPB), a árvore fez parte dos versos da letra de uma canção considerada subversiva. Aroeira, música do cantor e compositor Geraldo Vandré, entrou na lista dos censores do governo como uma provocação e estímulo contra o regime militar de então.
No contexto da época, a interpretação da censura era de que a letra da canção não era só uma valorização da qualidade dos ramos de aroeira como chicote, mas incentivo ao revide e ao confronto.
Aroeira
Já nos Estados Unidos a aroeira é uma espécie de plantio proibido até hoje, por ser considerada invasora nos banhados da Flórida, no Sul do país. É... a árvore parece mesmo fadada a ser associada à ilegalidade. No Brasil, a família das aroeiras (Anacardiaceae) se esparrama de ponta a ponta, sem pedir licença. Ocorre por toda a faixa da Mata Atlântica, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. E atravessa as fronteiras com o Uruguai, a Argentina e o Paraguai.
A facilidade de adaptação faz a planta se desenvolver em solos secos e pedregosos, dunas e ambientes de banhados. E a abundância dos frutos mais o belo porte, ereto e copado, fazem da aroeira uma árvore muito conhecida da população brasileira. Na zona rural é uma fornecedora de madeira para a construção de cercas, para lenha e carvão. Nas cidades, é muito utilizada na arborização das avenidas, ruas e praças, valorizada porque tem novidade o ano todo: a floração varia de julho a setembro ou de novembro a março, conforme a região. A frutificação acontece de dezembro a julho.
"A aroeira é planta ideal na arborização urbana por ser frondosa e de pequeno porte, de 5 a 10 metros. As cores de rosa para vermelho na frutificação embelezam a árvore, o fruto durável chega até 30 dias sem cair, além de atrair muitas aves, como é o caso do sanhaço", destaca o biólogo Dilson Ferreira. Ele já implantou e coordena diversos projetos paisagísticos de empresas e condomínios na região de Campinas (SP). O biólogo explica ainda que a aroeira é excelente na recuperação de áreas degradadas e mata ciliar: tem crescimento rápido e é facilmente disseminada por animais, dada a produção de frutos em quantidade.
Dilson Ferreira indica a aroeira para ser a árvore das nossas calçadas, e até sugere como deve ser o plantio: "Plante a aroeira na divisa de terrenos e a 50 centímetros da guia. Você e o vizinho terão uma árvore frondosa e sem trazer transtornos. Ela não arrebenta calçadas, aceita poda, faz pouca sujeira e não atrapalha o trânsito de grandes veículos na rua. Sem contar a boa sombra e a presença dos pássaros durante a frutificação".
A árvore pode ser cultivada a partir de sementes ou estaquia. E o seu plantio surge como uma das alternativas na diversificação agrícola porque entra na categoria de produto orgânico. Os frutos são uma história à parte. Em forma de cacho, as bolinhas apresentam 5 centímetros de diâmetro, em média, são brilhantes e de cor vermelha ou rosada, aromáticos, adocicados e, ao mesmo tempo, levemente apimentados. São bastante utilizados na culinária com o nome de pimenta-rosa, embora a família da aroeira não tenha qualquer parentesco com a família das pimentas. Mais próxima ela está é do caju, da manga e do cajá-mirim, outras anacardiáceas frutíferas conhecidas. Seja como for, o sabor da pimenta-rosa como condimento conquistou inclusive cozinheiros e gastrônomos internacionais, sobretudo na Europa.
Atualmente a coleta dos frutos é feita de forma manual e muita vezes em áreas naturais, mas alguns estudos mais completos sobre as aroeiras estão em desenvolvimento com o objetivo de promover o plantio comercial. No Espírito Santo, por exemplo, a pesquisa demonstrou a importância das abelhas na polinização da aroeira, confirmando a atração dos insetos pela característica adocicada do fruto. Da semente e da casca têm se obtido também óleos essenciais de cheiro agradável e ativo com utilização mais recente na formulação de perfumes.
Na medicina tradicional, as cascas da árvore podem ser cozidas e as mulheres utilizam a água no banho de assento após o parto como cicatrizante e antiinflamatório. O mesmo sistema de cozimento serve no tratamento de doenças urinárias e respiratórias. As folhas e os frutos são adicionados na água de assepsia de feridas e úlceras. E, cientificamente, nos ensaios farmacológicos já se comprovou a existência de propriedades antiinflamatórias, cicatrizantes e antimicrobianas (contra fungos e bactérias). Num desses ensaios, em 100 mulheres portadoras de cervicite (ferida no colo do útero) e cervicovaginites, o extrato aquoso das cascas aplicado em compressas intravaginais promoveu 100% de cura nas pacientes, em tratamento de 1 a 3 semanas. Assim, as preparações feitas a partir da planta são recomendadas para ferimentos na pele e mucosas em geral, como nos casos de cervicite e de hemorróidas inflamadas; nas inflamações das gengivas e da garganta (gargarejos, bochechos e compressas); como bebida, a partir do cozimento de pequenos pedaços da casca e/ou dos frutos, para combater azia e gastrite.
Em todos os casos, porém, é muito importante repetir um alerta: nas análises fitoquímicas da planta os ensaios registraram a presença de substâncias capazes de causar dermatite alérgica em pessoas mais sensíveis. A recomendação, se surgirem sinais de alergia, é suspender o uso imediatamente e procurar um médico.
Nomes populares de Schinus terebinthifolia:
Aguaraíba, aroeira, aroeira-branca, aroeira-da-praia, aroeira-do-brejo, aroeira-do-campo, aroeira-do-paraná, aroeira-mansa, aroeira-negra, aroeira-pimenteira, aroeira-precoce, aroeira-vermelha, bálsamo, cabuí, cambuí, coração-de-bugre, corneíba, fruto-de-raposa, fruto-do-sabiá


Fonte: biodiversityreporting.org

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